Crítica | Convenção das Bruxas (2020)

Convenhamos que quando o assunto é uma adaptação para os cinemas de alguma obra de Roald Dahl, já é esperado que o tempero extra chegue com doses terror e...

Convenhamos que quando o assunto é uma adaptação para os cinemas de alguma obra de Roald Dahl, já é esperado que o tempero extra chegue com doses terror e pitadas de um suspense macabro. Os itens citados estão presentes em praticamente todas as obras do autor que ganharam vida no cinema – algumas com mais outras com menos. Lá em 1990, a primeira adaptação de “Convenção das Bruxas” se tornou parte da infância de muitos por ser exatamente o limite “permitido” para crianças assistirem – e mesmo sem grandes efeitos, rendia muitos sustos. Hoje, chega aos cinemas o remake de Convenção das Bruxas, que possui muitos pontos fortes, mas em resumo, pegou leve demais nas doses do humor macabro que era esperado, se tornando basicamente um filme de sessão da tarde.

Mesmo sem as esperadas avalanches de sustos, o remake ganha crédito principalmente pela escolha do elenco. Ver Anne Hathaway como a Grande Rainha Bruxa é incrível e como sempre, a atriz entrega uma excelente atuação. Hathaway é a responsável por dar, mesmo que moderadamente, o toque de vilania que a obra pede. Ainda em elenco, o remake apesar de não superar o original, é louvável que a versão 2020 traga reflexões da atualidade. Um dos pontos é que o filme original foi feito apenas por atores brancos, ignorando qualquer característica da região em que se passa. O remake já trás mais representatividade. Octavia Spencer dá vida à avô amorosa, alegre e sábia. São vários indícios de que a produção visou transmitir a representatividade, um deles é o elenco, mas sobretudo algumas composições de cena. Uma que chama muito a atenção é a chegada ao grande hotel, onde a avô comenta ser um lugar seguro, de pessoas brancas e ricas, onde jamais uma bruxa iria se atrever a ir. É o oposto que acontece, mas seguindo com a cena, há alguns recortes de espantos dos funcionários do resort ao receberem hóspedes negros, tanto que o mesmo se recusa a receber gorjeta, comentando para que a avô guarde o dinheiro. Ao longo do filme, outra falas e cenas que contextualizam o alerta sobre racismo e intolerâncias vão sendo construídas e dando o ponto para tirar o filme de aspecto apenas de obra infantil despretensiosa.

Vale assistir? – Vale, mas quem assistiu o original pode sentir momentos mais monótonos, mesmo com a excelente qualidade de efeitos visuais. Quem conhece o livre que derivou a história, vai notar que a produção é um pouco mais fiel no sentido de construção cronológica, mas com muito menos emoção. O novo Convenção das Bruxas é a versão no estilo conto infantil, que começa interessante, tem pontos altos, mas não supera a versão dos anos 90. O filme é divertido, mas não gera a mesma ansiedade para assistir várias e várias vezes.

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